terça-feira, 2 de setembro de 2014

O Estaleiro, de Juan Carlos Onetti

Por Lucas S. Carniel (UFFS/ Letras)

Publicada em 1961, a novela o Estaleiro trata sobre o retorno de Larsen ao universo de Santa Maria (na verdade, a trama se desenvolve tanto em Santa Maria quando na cidade de Porto Estaleiro, que fica como que uma hora distante da primeira) e de sua tentativa e retomar uma vida digna, com o cargo de gerente no estaleiro de Jeremías Petrus. Na verdade, a empresa está falida, mas o proprietário assegura que pode voltar aos seus tempos áureos desde que consiga um apoio governamental. Enquanto ocupa o cargo de gerente geral, Larsen se ocupa de cortejar a filha do chefe, Angelica Inês, com claras segundas intenções, já que deseja se apossar da empresa logo que Petrus morra.
O curioso da novela é que ela começa com um Larsen envelhecido, na casa dos quarenta anos de idade, com uma carga nas costas, como se já houvesse fracassado na vida. Na realidade, como relata o seu retorno à cidade, obviamente que se imagina que ele teve uma vida lá, um emprego, amigos, mulheres, etc. Foi exatamente isso o que aconteceu, mas na novela Junta Cadáveres, lançada no ano de 1964, três anos depois do Estaleiro. Ou seja, O Estaleiro é lançada antes de Junta Cadáveres. É importante lembrar que a lógica temporal é também quebrada quando Onetti lança El astillero antes de Juntacadáveres. Aquele romance sucede cronologicamente ao outro na narrativa dos acontecimentos “sanmarianos”; este narra o empenho de Larsen para instalar um prostíbulo em Santa María até que, expulso da cidade, prepara-se para deixá-la. O Estaleiro mostra seu retorno após cinco anos de “exílio”.
Mais do que uma história muito bem contada, na qual podemos nos embriagar com personagens tão verossímeis em suas contradições medos e angústias, a inversão cronológica ficcional confere um status ainda mais transcendental à obra, que com certeza figura entre as mais importantes já publicadas na literatura universal. 

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