Publicada em 1961, a
novela o Estaleiro trata sobre o
retorno de Larsen ao universo de Santa Maria (na verdade, a trama se desenvolve
tanto em Santa Maria quando na cidade de Porto Estaleiro, que fica como que uma
hora distante da primeira) e de sua tentativa e retomar uma vida digna, com o
cargo de gerente no estaleiro de Jeremías Petrus. Na verdade, a empresa está
falida, mas o proprietário assegura que pode voltar aos seus tempos áureos
desde que consiga um apoio governamental. Enquanto ocupa o cargo de gerente
geral, Larsen se ocupa de cortejar a filha do chefe, Angelica Inês, com claras
segundas intenções, já que deseja se apossar da empresa logo que Petrus morra.
O curioso da novela é
que ela começa com um Larsen envelhecido, na casa dos quarenta anos de idade,
com uma carga nas costas, como se já houvesse fracassado na vida. Na realidade,
como relata o seu retorno à cidade, obviamente que se imagina que ele teve uma
vida lá, um emprego, amigos, mulheres, etc. Foi exatamente isso o que
aconteceu, mas na novela Junta Cadáveres,
lançada no ano de 1964, três anos depois do Estaleiro.
Ou seja, O Estaleiro é lançada
antes de Junta Cadáveres. É importante lembrar que a lógica temporal é também
quebrada quando Onetti lança El astillero antes de Juntacadáveres. Aquele
romance sucede cronologicamente ao outro na narrativa dos acontecimentos
“sanmarianos”; este narra o empenho de Larsen para instalar um prostíbulo em
Santa María até que, expulso da cidade, prepara-se para deixá-la. O Estaleiro mostra
seu retorno após cinco anos de “exílio”.
Mais do que uma
história muito bem contada, na qual podemos nos embriagar com personagens tão
verossímeis em suas contradições medos e angústias, a inversão cronológica
ficcional confere um status ainda
mais transcendental à obra, que com certeza figura entre as mais importantes já
publicadas na literatura universal.
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