terça-feira, 10 de novembro de 2015

Um Amor Anarquista - Miguel Sanches Neto


Por Alexsandra Aline Potulski


O livro Um Amor Anarquista  de Miguel Sanches Neto conta a história de um grupo de imigrantes italianos, que no final do século XIX, na pequena cidade de Palmeira, no interior do Paraná, funda a Colônia Socialista Cecília, no qual tenta-se destruir o sistema tradicional da família e implantar o amor livre.
A história se passa num tempo em que anarquismo ainda não era sinônimo de desordem. Giovanni Rossi, intelectual italiano, idealiza uma comunidade experimental na América do Sul, onde aplicaria os princípios socialistas não só à produção, mas também às relações pessoais e amorosas. Seria a primeira experiência do amor livre. O problema é que as poucas mulheres da colônia não estão dispostas a tal prática, e os solteiros têm urgência de amor. As casadas mantêm-se voluntariamente presas ao marido como se este fosse um patrão, os pais não aceitam que as filhas se percam numa vida insegura e errante, enquanto algumas meninas solteiras trocam favores sexuais por presentes, prática abominada por Rossi. A pobreza do lugar e o mau comportamento de alguns imigrantes são reflexos e conseqüência dessa falta de amor (na verdade, de sexo), enquanto o comportamento de pais e maridos em relação a suas mulheres se mostra uma incômoda evidência de que os princípios anarquistas ainda eram utopias distantes. E neste ambiente Rossi conhece Adele, uma italiana socialista, casada e disposta a quebrar preconceitos e adotar o amor livre, beneficiando justamente Rossi, por quem se apaixona. Segue um pequeno trecho da obra:

Uma parte de mim, no entanto, sentia falta da mulher, era minha raiz egoísta, contra a qual eu lutava todos os dias, lembrando que os interesses da Colônia tinham mais importância e minhas dores não passavam de sentimentos individuais e suportáveis. Caminhava pela estrada, vendo a lua se levantar no horizonte, uma lua cheia, luminosa, pulsando de forma tão intensa que cheguei a sentir vontade de voltar para minha casa, para minha cama, para minha mulher. E de repente eu queria que as coisas fossem minhas. Isso era triste, mais triste do que a solidão. [...]

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