Por Elisandra Maria Moreira (PIBID - Letras/UFFS)
Tem-se,
em O lustre (1946), segundo romance de Clarice Lispector, a história
de Virgínia, uma moça cujo comportamento oscila entre dois modus
vivendi, o rural e o urbano. O eixo narrativo gira em torno de dois
grandes momentos, que englobam fatos ocorridos no campo – em Granja
Quieta –, e dois que conformam eventos sucedidos na grande cidade
litorânea – seria o Rio de Janeiro– para onde a protagonista se
muda.
O
romance é narrado em terceira pessoa, sendo o narrador onisciente.
Durante todo o livro o foco prevalece sob a perspectiva de Virgínia,
a protagonista. Acompanhamos seu amadurecimento, desde sua vida
infantil na granja onde nasceu, até firmar-se, no presente da
narrativa, na solidão da cidade. Essa apresentação se dá, porém,
pela descrição do que cerca Virgínia, o que a influência –
tanto objetos, a exemplo do lustre do título, como pessoas próximas
a ela, seu irmão que ela amava e seguia como a um líder etc.
Como
dito, a falta de enredo é complementada pela percepção das
personagens sobre o mundo em volta, suas sensações – o que
confere ao livro sua fluidez característica, dando a noção de que
os momentos descritos, sempre presenciados pelo interior de
determinada personagem, estão carregados de certa força sufocante,
momentos de iluminação, a existência explorada nos íntimos
caminhos da memória – pois o que rege as páginas do romance é
essa explosão de vida tão bem observada por Clarice.
O
estilo de linguagem usado pela escritora é em si muito interessante–
o texto flui, evoluindo gradualmente em complexidade, sem um ponto de
descanso durante a narrativa, incansavelmente transmitindo
pensamentos, revelações, relações intrínsecas. Assim, é notável
a passagem do jantar em que Virgínia comparece, onde, ausente de
tudo em volta, acha em si motivos de júbilo e prazer, como ao
experimentar uma taça de licor de anis, sentindo o reconforto em si
por degustar o sabor da bebida.
“Era
licor de anis. O líquido grosso como algo morno […]Ainda o mesmo
gosto prendendo-se à língua, à garganta como uma mancha, aquele
gosto triste de incenso,
alguém engolindo um pouco de enterro e de oração.” -
alguém engolindo um pouco de enterro e de oração.” -
Por
Gabriel
Cezar
Nenhum comentário:
Postar um comentário