sábado, 20 de junho de 2015

O Lustre - Clarice Lispector


Por Elisandra Maria Moreira (PIBID - Letras/UFFS)


Tem-se, em O lustre (1946), segundo romance de Clarice Lispector, a história de Virgínia, uma moça cujo comportamento oscila entre dois modus vivendi, o rural e o urbano. O eixo narrativo gira em torno de dois grandes momentos, que englobam fatos ocorridos no campo – em Granja Quieta –, e dois que conformam eventos sucedidos na grande cidade litorânea – seria o Rio de Janeiro– para onde a protagonista se muda.
O romance é narrado em terceira pessoa, sendo o narrador onisciente. Durante todo o livro o foco prevalece sob a perspectiva de Virgínia, a protagonista. Acompanhamos seu amadurecimento, desde sua vida infantil na granja onde nasceu, até firmar-se, no presente da narrativa, na solidão da cidade. Essa apresentação se dá, porém, pela descrição do que cerca Virgínia, o que a influência – tanto objetos, a exemplo do lustre do título, como pessoas próximas a ela, seu irmão que ela amava e seguia como a um líder etc.
Como dito, a falta de enredo é complementada pela percepção das personagens sobre o mundo em volta, suas sensações – o que confere ao livro sua fluidez característica, dando a noção de que os momentos descritos, sempre presenciados pelo interior de determinada personagem, estão carregados de certa força sufocante, momentos de iluminação, a existência explorada nos íntimos caminhos da memória – pois o que rege as páginas do romance é essa explosão de vida tão bem observada por Clarice.
O estilo de linguagem usado pela escritora é em si muito interessante– o texto flui, evoluindo gradualmente em complexidade, sem um ponto de descanso durante a narrativa, incansavelmente transmitindo pensamentos, revelações, relações intrínsecas. Assim, é notável a passagem do jantar em que Virgínia comparece, onde, ausente de tudo em volta, acha em si motivos de júbilo e prazer, como ao experimentar uma taça de licor de anis, sentindo o reconforto em si por degustar o sabor da bebida.

Era licor de anis. O líquido grosso como algo morno […]Ainda o mesmo gosto prendendo-se à língua, à garganta como uma mancha, aquele gosto triste de incenso,
 alguém engolindo um pouco de enterro e de oração.” -

Por Gabriel Cezar

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